sábado, 11 de fevereiro de 2017

O Relato de Artemis, Uma Viagem à Estrela Vega (Contato Alienígena)





TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À AUTORA.


O RELATO DE ARTEMIS FAZ PARTE DO LIVRO "HISTÓRIAS DO AMANHÃ, AS CIDADES  SUBMERSAS"  DA AUTORA JAMILA MAFRA

         
    O RELATO DE ARTEMIS

Já fui muito infeliz, mas hoje minha felicidade é completa porque vivo em Guinah, um planeta de translação ao redor da Estrela Vega. Aqui, longe da guerra e da doença, a vida é quase eterna!

Tudo começou quando eu tinha quinze anos de idade. Lembro-me muito bem de quando tudo aconteceu, lá estava eu no segundo ano do colegial, totalmente de mal com a vida, entediada com meus pais e cansada de ser pobre, sonhando em ir embora, ainda que fosse para outro planeta. Estávamos na aula de física, o professor começou a falar sobre vida extraterrestre e a possível comunicação entre os seres humanos e os alienígenas. No começo essa conversa me deixou enfadada, mas depois, pensando melhor, isso me fascinou muito, essas foram as palavras do professor:

– Classe, saibam que a comunicação com seres extraterrestres pode ser possível e já foi testada. m 1973 foi enviada uma mensagem para o espaço a bordo da Pioner 10. Nesta mensagem foram usados desenhos codificados por Drake e por seu colega Carl Sagan. Foi colocada na nave uma placa de ouro anodizada, mostrando as figuras de um homem e de uma mulher, o homem com a mão levantada em sinal de paz e boas-vindas; as figuras destacam-se contra a silhueta da nave espacial, para dar uma noção de escala. A placa continha ainda o diagrama do hidrogênio atômico e um plano do sistema solar. Ao lado deste esquema surge a posição do sol em relação a 14 pulsares conhecidos, cada um destes acompanhados do símbolo indicativo do período de pulsação. E não é só isso, quatro anos depois eles enviaram em outra sonda, a Voyager, mais uma mensagem gravada em videodisco com imagens e sons do planeta Terra. Outro tipo de transmissão utilizado por eles é o método do código binários, o mesmo utilizado nos computadores e outros equipamentos! – explicou o professor.

– Professor, o senhor acredita que algum alienígena tenha recebido essas mensagens? – eu perguntei curiosa pela primeira vez.

– Veja bem, Artemis, essa é uma questão um pouco mais complicada. Mesmo sendo possível recebermos e enviarmos mensagens para os extraterrestres elas demorariam muito tempo pra chegar até nós. Por exemplo, se houvesse vida nos planetas que giram em torno da estrela Barnard, as nossas mensagens chegariam lá depois de seis anos, isso na velocidade da luz. No entanto é ilógico esperar que haja vida inteligente a essa distância. Mas se tratando de haver uma civilização a 100 anos luz daqui as mensagens demorariam sete gerações para chegar lá ou aqui. – me explicou o professor Roberto.

Lucas, outro aluno se manifestou naquele momento dizendo:

– Professor, eu ouvi dizer que os radioastrônomos quando descobriram sinais de rádio vindos do espaço imediatamente pensaram se tratar de mensagens codificadas enviadas por uma civilização alienígena!

Fui pra casa naquele dia pensando nisso, aos poucos eu me convenci que ir embora pra outro planeta até que não era má ideia. Na Terra eu só tinha decepções, meus pais sempre desempregados, e eu me sentindo massacrada pela pobreza e pelo jugo capitalista. Em uma certa noite eu olhei pro céu estrelado e pensei comigo: "Realmente deve haver em algum lugar no universo uma civilização mais evoluída do que essa". Isso dominou meus pensamentos e quanto mais eu me decepcionava com a Terra mais eu sentia vontade de ir embora. Comecei a comentar com os meus amigos sobre a minha vontade de ir embora para outro planeta e todos riam da minha cara dizendo que eu estava louca. Um deles era meu amigo Lucas. Em uma conversa ele zombou de mim.

– Lucas, você acredita no que o professor falou outro dia na aula de física? Sobre os extraterrestres? – perguntei.

– Artemis, tudo é possível nesse universo! O que eu não acho possível agora é a loucura que você anda espalhando aos quatro ventos.

– E o que eu estou espalhando aos quatro ventos? – questionei já nervosa.

– Ora, essa história de você ficar dizendo que quer ir embora pra outro planeta a qualquer custo! O homem mal chegou a Marte. E mesmo que as viagens pra Marte já estivessem sendo realizadas, custaria milhões de dólares. Artemis, você é pobre, nós somos pobres, você nunca teria dinheiro pra fazer uma viagem dessas. Você não pode ficar presa a essas ideias como se isso fosse possível. Pare de falar isso caso contrário todos pensarão que você está louca! – Lucas alertou-me.

– Lucas, eu acho que você não me entendeu, eu não quero ir pra Marte, eu quero ir pra outro planeta em uma galáxia muito longe daqui, quero ir para um planeta onde exista uma civilização mais evoluída que essa e não voltar nunca mais pra cá. Eu quero distância da raça humana. E a NASA não me interessa nem um pouco! – respondi enfaticamente.

Sei que a partir daquele dia meu amigo Lucas e todos os outros pensaram que eu estivesse enlouquecendo. E talvez eu estivesse mesmo enlouquecendo de tanta angústia.

Passei a comprar todo o material que falava sobre UFOS, planetas e galáxias afins. Meus pais não gostaram muito desse meu novo comportamento. Até porque eles mal tiveram estudo e eram quase que completamente ignorantes em assuntos de astronomia e ufologia. Aliás, eles faziam parte do grupo que achava que eu estava enlouquecendo. Todos ao meu redor eram pobres, mal sabiam o que eram um avião tampouco uma viagem intergaláctica. Mas eu nem me importava com os outros, simplesmente estava concentrada no meu objetivo principal, ir embora da Terra. 

Encontrei por acaso um livro que falava sobre telepatia, comunicação através do pensamento, então acreditei que se eu estudasse e meditasse aquilo que eu queria tudo poderia acontecer. É claro que no começo não foi fácil, tinha que escolher entre comprar o último lançamento da revista científica ou a roupinha ou o lanche que eu queria. Mas enfim eu escolhia a revista e tantos outros materiais que precisava pra minha pesquisa particular. Com a intenção de ser abduzida comecei a treinar meu poder de telepatia. Inclusive esse é um poder que todos têm. 
 Arrumei um emprego de balconista em uma loja e consegui comprar um telescópio simples, mas que me ajudou muito. Passei a observar as estrelas todas as noites. Minhas três irmãs, com quem eu dividia um quarto apertado, também achavam que eu estava louca. Eu não queria saber de mais nada. Minhas melhores amigas eram as estrelas. Observá-las era a melhor coisa que eu fazia na inútil vida que eu levava. Que só não era mais inútil porque na Terra ao menos existia a astronomia. Meus amigos se afastaram de mim, nesse mundo perturbado eles preferiram o vício do que a minha amizade. Eu até os convidei para estudar as estrelas comigo, entretanto a mente deles estava totalmente presa e escravizada pelas coisas banais e finitas do planeta Terra. 

No começo eu chorei amargamente por saber que enfim eu estava sozinha. Não sobrou um mísero terráqueo pra me fazer companhia, mas que isso importava? Eu tinha as estrelas, toda noite eu conversava com o planeta Marte e também com a Lua, às vezes com Mercúrio. E querem saber? Eu me sentia muito bem, os astros são os melhores amigos que alguém pode ter. Por dois anos fiz tudo isso insistentemente. Terminei meus estudos no colégio com fama de doida e excluída, mas enfim cumpri meu papel. Não entrei na faculdade, não tinha dinheiro, porém continuei em meu emprego de balconista e também com minhas pesquisas de astrônoma amadora. Comprei até um telescópio melhor. Eu estava cada vez mais convicta de que algum dia eu iria embora para outro planeta. Nessa época o planeta Terra estava no ano de 2000 d.C.

Gostaria apenas de explicar porque meu nome é Artemis, isso foi uma decisão do meu pai, ele achou o nome bonito depois de assistir um filme de mitologia grega na televisão, ao menos um pouco de cultura expressa na minha identidade!

Mesmo com tantas descrenças e oposições ao redor eu nunca duvidei que eu conseguiria aquilo que eu mais queria. Cheguei a um ponto em que eu não me sentia mais sozinha, a aparente solidão que todos viam em mim na verdade era a minha verdadeira alegria e companhia. Meus pobres conterrâneos com suas mentes limitadas jamais poderiam imaginar que os planetas e as estrelas podem ser grandes amigos.

Era madrugada do dia 18 de agosto de 2000 d.C., eu dormia tranquilamente no já mencionado quarto apertado que eu dividia com minhas irmãs, falando nisso minha casa era pequena, de alvenaria, tinha até uma laje, mas muito modesta. Havia mais uma cozinha, o quarto dos meus pais, uma salinha e um banheiro. O quintal até que era grande de grama e mato. 

Voltando ao assunto, eu dormia tranquilamente naquela noite, quando de repente ouvi um barulho vindo do lado de fora, parecia um avião, mas era um barulho suave. Naquele mesmo instante acordei e corri para o fundo do quintal, para ver o que era. Ao olhar para cima o céu estava estrelado e pairado sobre o telhado da minha casa havia um grande disco voador, ele desceu mais um pouco e emitia luzes muito brilhantes, coloridas e lindas. Peguei uma escada de madeira que havia e subi na laje sobre a qual a nave espacial estava pairada. E lá estava eu embaixo daquele enorme disco voador. A nave era prateada. Parecia mesmo uma cena de filme. Enquanto o vento balançava meus cabelos compridos uma porta na parte inferior da nave se abria e um ser que parecia ser um homem saiu de dentro dela. Ele usava uma roupa de cor metálica e também um capacete. Não me assustei nem um pouco, pelo contrário, vislumbrei com enlevo aquele momento.

Espontaneamente ele tirou o capacete e sorriu pra mim, naquele instante contemplei o ser mais lindo que eu já vira em toda a minha vida. O rosto dele era de um ser humano, porém a beleza e perfeição que ele tinha jamais existiu entre os mortais da Terra. A beleza dele era perfeita, seus olhos eram azuis, brilhavam e pareciam serem feitos de vidro, ou melhor dizendo, pareciam serem feitos do mais puro cristal refinado. Sua pele era branca e com uma textura macia feito uma pluma. Naquele momento eu pensei que com certeza aquele era o astronauta mais lindo do universo. Encostei em seu rosto e em seguida ele sorriu mais uma vez, colocou o capacete e estendeu sua mão direita pra mim, me convidando para entrar na nave. Eu sorri e sem pensar duas vezes segurei em sua mão e então entrei na nave com ele.

Dentro da espaçonave havia outro astronauta, ele não tirou o capacete. O astronauta me conduziu até uma cabine na qual me mostrou uma roupa e um capacete iguais aos que ele estava usando. Através de gestos ele me pediu que eu as vestisse, entendi que deveria fazer isso antes que a nave decolasse. Depois que vesti as roupas e o capacete perguntei por que eles vieram, e obtive a resposta em meu pensamento, ele me disse por telepatia: "Escutamos os seus pensamentos e por isso viemos buscá-la". Aquilo realmente me surpreendeu, logo depois, ele me conduziu à cabine de controle, onde me acomodou em uma poltrona e atou em mim o que se assemelhava a um cinto de segurança. Os dois astronautas também se sentaram, colocaram os cintos e decolaram a nave. Naquele instante meu coração acelerou, pois percebi que a nave estava em altíssima velocidade que depois  de certo tempo diminuiu bastante, foi então que os astronautas desataram os cintos e tiraram os capacetes, fiz o mesmo. No painel de controle eles me mostraram algumas imagens de seu planeta e me disseram que o mesmo chamava-se Guinah. Ao olhar com mais atenção para o lado de fora através do vidro notei que estávamos percorrendo o espaço sideral. Enfim meu grande objetivo se concretizara, se tornou realidade tudo que eu mais queria.

Quando a nave se aproximava de Guinah o astronauta falou comigo pela primeira vez. Me surpreendeu o fato dele falar meu idioma, e sua voz era incrível, parecia de trovão, para entenderem melhor, parecia uma voz eletrônica de robotizada e muito firme. Ele me revelou que já haviam abduzido outros seres humanos e estudado nossa anatomia. Eles sabiam a maneira que nosso corpo funcionava e inclusive aprenderam muitos idiomas da Terra. Não todos, mas em Guinah alguns astronautas mais especializados sabiam falar alguns idiomas da Terra e até de outros planetas próximos de Guinah. Antes de entrar na atmosfera do planeta eles me deram uma injeção e me explicaram que isso era necessário para que eu não sentisse os efeitos da diferença da gravidade que era mais intensa que a da Terra. E também por questões de adaptação. Depois do pouso da nave me senti um pouco fraca e acabei dormindo, foi um pequeno desmaio, um efeito adverso à injeção. 

Quando acordei já estava deitada na cama de uma sala. Ao abrir meus olhos me deparei com três daqueles seres igualmente belos, entre eles o astronauta que me abduziu. Eles sorriram pra mim e me explicaram que era necessário que eu descansasse por algumas horas até que meu corpo se adaptasse àquele novo ambiente, inclusive administraram em mim outros medicamentos. Fizeram isso através de injeções.

Os dias se passaram e eu me adaptei muito bem a viver aqui em Guinah. Aqui o oxigênio é puro até demais, no começo meus pulmões não estavam acostumados a respirar um ar tão puro, eu até me sentia estranha, mas depois tudo ficou bem. Aprendi a falar e escrever o idioma Guinah, que, aliás, não é somente um idioma, são vários, mas eu aprendi a falar o idioma principal desse planeta maravilhoso. Minha alimentação era especial, feita por eles em laboratório, e a água também, eles adicionaram substâncias especiais à minha alimentação, também por questões de adaptação do meu organismo. E enfim, depois de alguns anos com meu corpo totalmente adaptado e transformado, passei a viver sem nenhuma restrição e me alimentando e vivendo normalmente tal qual qualquer habitante normal de Guinah.

Os dias em Guinah são muito longos e os anos também. E o envelhecimento aqui também é muito lento, as pessoas praticamente vivem mais que o triplo da vida na Terra. Por exemplo, em Guinah, uma pessoa com cem anos tem aparência de uma pessoa terráquea de 25 anos. Em Guinah as pessoas chegam a viver quatrocentos anos. E eu, depois de um longo tratamento, entrei nesse sistema de envelhecimento. Enquanto no planeta Terra haviam se passado cerca de cinquenta anos minha aparência ainda era de 19 anos de idade. Até aquele momento eu envelhecera praticamente nada. Talvez minha mente sim já não era mais a mesma, minha mente sim de certa forma envelhecera no sentido de ser totalmente mais madura e completamente transformada.

Guinah é um planeta lindo, sem poluição, sem destruição. Aqui há uma infinita variedade de espécies de animais, sendo que a maioria não existe na Terra. As casas são muito bonitas e apesar de toda a tecnologia a natureza não foi destruída aqui. Guinah teve sim seus problemas no começo de sua civilização, mas hoje, depois de séculos de progresso, este planeta alcançou o máximo possível de evolução. Descobri ainda algo surpreendente, as mensagens e sondas que os seres humanos enviaram para o espaço e o disco de ouro com mensagens gravadas na chegaram em Guinah. Eles os mantêm guardados em uma vitrine, expostos para que os habitantes daqui a vejam. Eles também têm guardados outros objetos enviados por seres de outros planetas.

Perguntei-lhes por que não responderam a nossa mensagem e eles me disseram que os seres humanos são seres muito medrosos e que fazem guerras por motivos fúteis, se acaso eles tivessem se manifestado a nós provavelmente esconderíamos isso do resto da civilização e com certeza faríamos de tudo para sequestrar seus corpos e fazer-lhes guerras. E eu não duvido de nada disso. No fim os governos terráqueos temem e sempre temeram a reação do povo, tanto que fazem de tudo para oprimir as massas com os impostos e a pobreza.

Estudei muito em Guinah até me tornar uma grande cientista. Pra mim é fascinante estudar o universo e suas possibilidades. Tive até contato com outras civilizações extraterrestres. Aprendi muitas coisas e continuo aprendendo, afinal o universo é infinito, posso estudá-lo para sempre que ainda assim jamais terminaria, pois ele não tem fim.

Durante todo esse tempo jamais pensei em voltar pra Terra, e também não tive notícias da minha família. Inclusive nunca quis saber notícias do meu planeta natal, até porque depois de cinquenta anos terrestres eu sabia que as notícias não seriam boas. Por isso preferi não saber.

Aqui em Guinah a sociedade é perfeitamente organizada. As famílias vivem em belas casas em formatos de grandes discos voadores, por dentro são muito sofisticadas e em volta há muitas árvores, plantas e flores em geral. Há flores azuis prateadas, douradas, não apenas pela cor, há flores realmente de ouro.

Constantemente os cientistas de Guinah enviam sondas invisíveis para filmar os habitantes da Terra. Foi assim que eles me localizaram ao ouvirem meus pensamentos. Eles filmaram todos os meus passos, viram todas as noites que eu passava observando as estrelas e os planetas. Eles perceberam que eu realmente merecia ter meu grande objetivo realizado e decidiram me buscar.

Como já havia falado, jamais pensei em voltar para o planeta Terra. Confesso que senti falta dos meus pais e da minha família, porém nunca trocaria minha vida aqui em Guinah por aquela que eu levava na Terra.

A inteligência alcançada pela civilização Guinah ultrapassa todo entendimento humano, aqui eles são capazes de curar todas as doenças.

Quando completara vinte anos terrestres que eu estava em Guinah, meu chefe do laboratório espacial, o astronauta e cientista Starctra, me chamou para uma conversa muito séria em sua sala. A princípio fiquei receosa, temia que ele me dissesse que eu deveria voltar para o planeta Terra.
– Ctratercapah (ele me chamou pelo meu novo nome que era esse, parece bizarro, mas significa estrela), não tenho notícias boas sobre seu planeta – ele me disse.

– Starctra, eu não quero saber de notícias sobre o meu planeta por melhor ou pior que elas sejam. Guinah é o meu planeta agora! Já até sei o que vai me dizer, vai me dizer que os litorais estão submersos e que as guerras e epidemias dominam meu planeta! Olha, quando eu saí de lá a situação já era essa – exclamei nervosa.

– Não! Não é isso que eu tenho pra lhe dizer. É algo muito mais sério que pode até levar a sua espécie a extinção.

– Mas do que você está falando? – perguntei sem compreender o que acontecia.

– Um fenômeno raro do universo e desconhecido para algumas civilizações de vida, inclusive pra sua, se aproxima do planeta Terra e se atingi-lo irá destruí-lo com chances de eliminar completamente a sua espécie – ele me explicou.

– E que fenômeno é esse? – perguntei aflita.

– É um aglomerado redondo, uma espécie de fluido de elementos químicos, vindos até de outros universos. O tamanho dele é a metade de seu planeta Terra. O impacto será devastador – alertou-me Starctra.

– E o que quer que eu faça? – questionei mais uma vez.

– Nós do departamento espacial queremos que você vá conosco ao planeta Terra para avisarmos seus governantes sobre essa grande ameaça e risco que ele está correndo. Agora a Terra se aproxima do ano 2050, se decolarmos hoje chegaremos ainda uns anos antes desse fenômeno atingir o planeta. Você avisará seus governantes e apresentaremos a solução para conter o fenômeno. Temos a fórmula de uma substância que se produzida em escala industrial e lançada sobre ao redor da órbita de seu planeta livrará a Terra do impacto. O pior de tudo é que lá seus conterrâneos não têm tecnologia nem mesmo para identificar a chegada dele – ele concluiu me olhando sério esperando minha resposta.

Respirei fundo, um filme da minha vida passou pela minha cabeça, e naquele instante tive que tomar 
a decisão mais difícil de toda a minha existência. Fui dominada por um sentimento de piedade e decidi embarcar naquela mesma hora de volta ao planeta Terra. Uma equipe de dez astronautas mais meu chefe e comandante me acompanharam nessa missão. Fomos em uma nave que possuía um dispositivo de invisibilidade. Com minha mente mais evoluída me preparei para enfrentar o que veria ao chegar ao meu mundo de origem. Uma lei em Guinah proibia os astronautas de se apresentarem perante os governantes do planeta Terra por motivos já mencionados. No entanto se os governantes não me ouvissem meu comandante se manifestaria, pois esse era um caso de extrema urgência.
Starctra me garantiu que eles me protegeriam e que só voltariam para Guinah comigo dentro da nave. 
A priori ter que voltar pra Terra teria sido a pior notícia da minha vida se minha mente não estivesse tão evoluída.E lá fomos nós salvar a civilização do massacre, estávamos a caminho de resgatar a raça que destrói a si própria. Cheguei a pensar que se tudo acabasse para os seres humanos seria muito melhor. Contudo, a piedade que havia em mim era muito maior do que qualquer outro sentimento naquele momento.

Depois de um certo tempo viajando na velocidade da luz, pegando atalhos em buracos de minhoca, finalmente chegamos ao planeta Terra, era aproximadamente o ano 2055 d.C. Ao sobrevoarmos o planeta meus olhos se chocaram com tudo que eu vi. Lembrei-me perfeitamente que muito tempo antes da minha partida os cientistas terráqueos alertavam sobre as trágicas consequências que as ações humanas insensatas e destrutivas trariam para o futuro. Lembrei também que ninguém se importou com isso. E o planeta Terra que eu vi, ao retornar décadas depois, foi o retrato fiel do caos e da destruição. Vi os litorais submersos pela invasão do mar causada pelo aquecimento do planeta devido à radioatividade gerada nas usinas e bombas nucleares, a atmosfera estava destruída pelo calor impiedoso da radiação. Estava tudo submerso, inclusive a cidade em que eu morava onde um dia fora uma praia. Vi os pobres, que antes viviam nos litorais, todos amontoados nos morros e montes mais altos. Perderam suas casas devido à invasão das águas do mar e a única solução foi se amontoarem em barracos de madeira e tijolo sobre os morros. Vi por cima das cidades submersas, construídos por sobre as águas , grandes e sofisticados prédios, a moradia dos ricos, uma grande Veneza!

Vi os carros e outros veículos se locomovendo sem rodas, eles flutuavam sobre as ruas e avenidas. Em algumas cidades vi ainda pessoas usando máscaras pra respirar devido às epidemias. Quase não vi árvores em lugar nenhum, não vi pássaros voando no céu como acontecia antes. Não vi nem mesmo urubus. Pensei comigo: Destruíram os animais! Também não vi praias, e isso porque elas quase já não existiam e as que existiam estavam cercadas e vigiadas por policiais. Percebi que se pagava para entrar em uma dessas praias que restaram.

Tão grande era a minha desilusão com a sociedade terráquea e com o próprio planeta Terra, que eu havia perdido até mesmo a vontade de rever minha família. Na verdade o que eu sentia mesmo era uma grande curiosidade de vê-los pra saber como eles ficaram depois de toda aquela transformação no planeta. Mas para isso, antes eu precisava localizá-los. Certamente eles estariam vivendo em um daqueles morros. Se meus pais estivessem vivos estariam com mais ou menos uns 94 anos e minhas irmãs com uns 60 anos de idade.

Os astronautas me ajudaram a localizá-los, na verdade eles já até sabiam onde eles e de fato meus pais viviam amontoados em um dos morros. Aterrissamos a nave em um terreno abandonado longe do litoral. Os astronautas permaneceram na nave e eu assumi meu papel de simples terráquea e saí da nave, peguei um transporte comum até o litoral. Era um tipo de ônibus voador coletivo.

Cada morro tinha um nome e um número, minha família estava morando no morro dezoito. Eu sabia que quando me vissem ainda tão jovem eles se assustariam. Por todos aqueles anos eu já estava declarada morta pelas autoridades. Ao andar pelas vielas daquele morro senti uma dor no coração. As condições eram precárias, vi as pessoas carecas por não poderem ter cabelos devido à escassez de água para lavá-los, e mesmo os mais jovens e as crianças tinham a pele ressecada e com rugas por causa dos raios solares e falta de condições. Alguns usavam perucas, mas outros não. Enfim, ali estava eu, diante da provável casa onde meus pais moravam, até então eu não sabia se encontraria meus irmãos ali também. Era mais um barraco de tijolos amontoados entre tantos outros barracos.
Antes, durante o trajeto cheguei a ver alguns conhecidos, é lógico que já idosos, mas os reconheci por seus traços e fisionomia, um vizinho meu que era criança agora um adulto de cinquenta e poucos anos chegou a perceber minha presença, mas não ousou a se aproximar, com certeza achou que eu fosse só uma garota parecida. Um fato interessante naquele morro era que todos que passavam por mim me olhavam com espanto pelo fato da minha pele não ser enrugada. E realmente naquele momento entre eles eu me senti um extraterrestre.

Respirei fundo em frente ao barraco, e fiz o que sempre se fez para se anunciar, bati palmas. Percebi que um senhor idoso se aproximava, ele era realmente muito velho e andava apoiado em uma bengala. Ele veio chegando e parecia me olhar com certa dificuldade, parecia quase cego. Ao vê-lo mais de perto percebi que ele era o meu pai. Confesso que me surpreendi em saber que ele sobrevivera a tudo aquilo de ruim que se tornara o planeta Terra.

Ao chegar bem perto de mim ele não disse nada, eu continuei calada. Até que ele se manifestou:
– Artemis, minha filha, é você? – ele perguntou com uma voz rouca e debilitada.

A fraqueza do meu pai não permitia que ele manifestasse grandes emoções. Foi um milagre ele não ter desmaiado.

– Sim, pai, sou eu, sua filha Artemis! – respondi sorrindo.

– Mas você ainda está tão jovem depois de tanto tempo. Sua aparência está exatamente igual ao dia em que desapareceu há mais de cinquenta anos – ele relembrou.

Entrei no barraco com meu pai e lhe contei tudo que acontecera. Minha pobre mãe já estava inválida e não andava mais, ela mal entendia o que estava acontecendo em sua volta e devido a problemas psiquiátricos ela estava mentalmente incapacitada, era uma espécie de mal de Alzeimer. Meus irmãos sim chegaram a desmaiar ao me ver assim tão nova. Foi muito difícil para eles entenderem tudo que havia acontecido comigo. Mas quem se assustou com tudo isso foi meu amigo Lucas. Ele já era um idoso, já era até avô. Ele e meus irmãos estavam morando em um morro vizinho. Ao me ver o Lucas até chorou, tocou em mim pra ver se era eu de verdade, pensou até que eu fosse uma clonagem. Ele me disse depois que lhe contei tudo:

– Artemis, seus pais quase enlouqueceram de desespero com o seu desaparecimento. Cheguei a dizer a eles que você tinha sido abduzida pelos alienígenas! E enfim você conseguiu isso. Artemis, o tempo não passou pra você!

– Sim, Lucas. E pelo que vejo pra vocês além do tempo ter passado causou-lhes sérios danos – ressaltei.

Lucas e minha família souberam de tudo. Inclusive o motivo da minha decisão de ir embora. Meus pais me pediram perdão e eu os perdoei. Até decidi levá-los comigo para Guinah. Todos aceitaram. Convidei também meu amigo Lucas, mas ele preferiu continuar vivendo na Terra com sua família. Mesmo depois de tudo cheguei à conclusão de que eu fiz a escolha certa. Ir embora e escapar das desgraças que inevitavelmente atingiram a Terra era uma oportunidade que eu não poderia perder. Em Guinah eu evoluí e me tornei uma grande cientista.

Enfim chegava a hora de me apresentar perante os governantes da Terra e contar-lhes tudo o que aconteceria em breve. Antes disso instalei minha família na espaçonave onde começaram a conhecer mais sobre Guinah, o planeta no qual logo viveriam. Seguimos para os Estados Unidos, onde eu me apresentaria às autoridades.

Com muita dificuldade me apresentei perante os representantes da ONU e da NASA. Para conseguir falar com os governantes e cientistas responsáveis tive que inventar que pedaços de um disco voador caíram no meu quintal junto com um corpo extraterrestre e que eu revelaria e mostraria tudo à imprensa. Eles me suplicaram silêncio e assim aceitaram falar comigo pessoalmente. Tivemos uma reunião e o que eles ouviram de mim foi muito mais grave. Contei-lhes tudo que aconteceu comigo e provei-lhes quem eu era com minhas digitais, provei que não havia morrido e que eu tinha mais de sessenta anos com uma aparência de dezenove.

– Escute aqui, menina, essa história é um absurdo! Onde estão os tais alienígenas? – me perguntaram.

– Eles não podem se manifestarem a vocês, é uma lei deles.

– Isso é um absurdo! Nossa tecnologia é muito avançada, com certeza nossos astrônomos identificarão qualquer cometa ou asteroide que estiver se aproximando da Terra.

– Mas não é um cometa, é um fenômeno desconhecido pra vocês. Precisam acreditar em mim, fabricar a substância neutralizante e fazer tudo que eu expliquei. Aqui está a fórmula, peguem! Fabriquem logo essa substância em escala industrial e enviem grandes naves as quais lancem a substância sobre o fenômeno e também ao redor da órbita do planeta e assim salvarão a Terra.  – insisti.

– Menina, você está louca! Isso é um golpe seu para se exibir perante o mundo e perante a imprensa. Já não basta os loucos que tiram a nossa paciência e nos fazem perder tempo com histórias de OVNIS!

– Mas provei a vocês que tenho mais de sessenta anos terrestres de idade, e vejam, não envelheci! – ressaltei mais uma vez.

– Você pode muito bem ser uma dessas meninas ricas que passou pelo tratamento que retarda o envelhecimento. Aqui na Terra já inventamos isso, saiba!

– Senhoras e senhores aqui presentes, olhem em volta e vejam o caos e terror que está esse mundo. Os litorais estão submersos porque o gelo dos polos derreteu por causa da radioatividade gerada nas usinas e de bombas nucleares, os pobres estão amontoados nos morros, a água potável é escassa, as epidemias dominaram a vida de todos. As crianças já têm rugas porque vocês destruíram a camada que nos protegia dos raios solares. E mesmo assim vocês só pensam em dinheiro. Isso sim é loucura. A bomba atômica foi uma loucura, loucura de monstros. Eu viajei anos-luz pra chegar até aqui e tentar salvar o que ainda resta desse mundo. Vocês gastam milhões de dólares em sondas espaciais, dinheiro esse que vem dos pobres. Não é possível que agora que finalmente vocês têm a chance de usar esse dinheiro pra fazer algo de útil a favor da humanidade se neguem a isso. Como pode vocês idolatrarem as máquinas e desprezarem a vida? Quando eu ainda vivia aqui e via as pessoas, tanto pobres quanto ricos, idolatrarem os computadores e celulares eu pensava comigo: "Quanta ilusão, amanhã virá a destruição e então tudo se acabará!". E foi exatamente isso que aconteceu – argumentei nervosa.

– Escute aqui, menina, se está tão insatisfeita com a vida aqui na Terra por que não volta para este tal planeta de que você fala? – me questionaram.

Eu fiquei furiosa, quanto mais eu falava mais eles me contradiziam.

– Não espera que acreditemos nessa história ridícula que está nos contando? – me esnobaram.
Não suportei tanta descrença por parte deles e encerrei com as palavras:

– Saibam que não conseguirão esconder das pessoas a vida extraterrestre para sempre. Essa verdade um dia se manifestará perante todos os seres humanos. Bem, aqui está a fórmula e todas as instruções para salvar o planeta Terra. Boa sorte e adeus! – conclui me levantando da cadeira.

Me levantei da cadeira e saí com muita raiva daquele lugar! Segui em direção à saída, mas fui perseguida pelos corredores por guardas que me prenderam. Todos ali me consideravam uma grande ameaça aos seus segredos. Até me acusaram de querer incitar o pânico mundial. Entretanto não fiquei presa por muito tempo, apenas por um dia, pedi ajuda aos meus amigos astronautas, pedi que eles viessem me resgatar.

E como eu fiz isso? Fiz com algo que aqueles que me prenderam jamais imaginariam, tenho um dispositivo instalado em meu cérebro que permite que eu me comunique com os astronautas perfeitamente através do pensamento. Meu próprio comandante veio me libertar. Com sua roupa invisível ele entrou no departamento e saímos de lá juntos totalmente invisíveis. Tentaram nos perseguir e nos identificar com raios infravermelhos, mas foi inútil.

O astronauta me carregou no colo e correu até uma grande janela no final do corredor, e do lado de fora a nave já nos esperava. Pulamos a janela e embarcamos na espaçonave rumo ao infinito, eu e minha família. Meus pais e irmãos passaram por um processo biológico de renovação genética de rejuvenescimento, e tiveram de volta a aparência e saúde de 20 anos de idade. 

Hoje vivo aqui em Guinah com meus pais e minhas irmãs. Aqui somos felizes de verdade. E quanto ao planeta Terra, soube que decidiram fabricar o neutralizante e salvá-lo, eles descobriram que Starctra estava certo.

Guinah absolutamente é o melhor planeta do universo, adeus!

JM JAMILA MAFRA

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